sábado, 8 de junho de 2013

A Revolução Francesa - uma revolução burguesa?

A Revolução é incontestavelmente burguesa pelos seus autores. A composição das assembleias mostra-o bem, pois a burguesia detém aí uma esmagadora maioria, os operários não estão representados e a aristocracia é expulsa. (...) a burguesia é a classe instruída, a mais capaz de empreender uma reforma desta natureza. Em segundo lugar, é ainda mais natural que esta burguesia pense nos próprios interesses e que estes coincidam com o espírito e o movimento da revolução. Quem encontra mais vantagens na abolição dos constrangimentos sociais, das desigualdades jurídicas? A igualdade civil e a liberdade favorecem essencialmente a burguesia, proprietária, industrial, comerciante. São geralmente os burgueses que adquirem os bens nacionais postos à venda, são os burgueses que povoam as administrações. Em terceiro lugar, é um facto que, em pontos importantes, as assembleias revolucionárias ou o governo consular trouxeram restrições ao exercício das liberdades, à aplicação dos princípios de igualdade, em proveito da burguesia e em detrimento das outras classes. Assim, as Constituições de 1791 e de 1795 distinguem duas categorias de cidadãos, das quais só a que pode demonstrar condições de fortuna e de propriedade goza da plenitude dos direitos políticos. A noção do censo para diferenciar os cidadãos é uma derrogação grave dos princípios de liberdade e igualdade. Quanto ao império, restaura uma nobreza, corpos e monopólio, e é nisto que se pensa quando se fala da revolução burguesa, feita pela burguesia para seu proveito exclusivo e desprezando os princípios de que se reclama. E em denunciar a contradição entre as ideias e a prática, a hipocrisia dos dirigentes.
RÉMOND, René, Introdução à História do Nosso Tempo. Do Antigo Regime aos Nossos Dias, Lisboa, Gradiva, 1994

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