Inauguração do caminho de ferro (1856)
"Grande acontecimento, o caminho de ferro! A vantagem da sua construção em Portugal fora discutidíssima (…) era curioso ouvir nos serões lá de casa as diversas opiniões (…) a Nação ia gastar montes de libras e um país que possuía o Tejo e o Douro não precisava de mais nada. Os rios eram muito mais seguros e muito mais baratos (…) Em todo o caso, a maioria era pelo caminho de ferro (…) Chegou, enfim, o solene dia da inauguração (…) Murmurava-se insistentemente que a ponte de Sacavém não podia resistir ao peso. Finalmente avistámos ao longe um fuminho branco (…) Quando o comboio se aproximou vimos que trazia menos carruagens do que supúnhamos. Vinha festivamente engalanado o vagão em que viajava El-Rei D. Pedro V. O comboio parou um momento na estação de onde se ergueram girândolas de foguetes: vimos El-Rei debruçar-se um instante e fazer-nos uma cortesia (…)
Só no dia seguinte ouvimos contar certas peripécias dessa jornada da inauguração. A máquina, das mais primitivas, não tinha força para puxar todas as carruagens que lhe atrelaram e fora-as largando ao longo da linha (…) Passaram muita fome os que ficaram pelo caminho (…) semeados pela linha, só chegaram alta noite a Lisboa depois de variadíssimas aventuras (…) Até andou gente com archotes pela linha, à procura dos náufragos do progresso."
Testemunho da Marquesa do Cadaval (adaptação)
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