SINÉDRIO: REVOLUÇÃO LIBERAL PORTUGUESA:1820
Sinédrio
Grupo de personalidades portuenses que, em 24 de agosto de 1820, protagonizaram na sua cidade a revolta que viria a instaurar o regime liberal em Portugal, na sequência de uma tentativa de sublevação anti-britânica falhada pelo general Gomes Freire de Andrade em 1817. Os abusos dos ingleses mantiveram-se desde essa altura, tal como a miséria pública e a necessidade de reformas urgentes. É assim fundado o Sinédrio, em 22 de janeiro de 1818, por quatro maçons do Porto - Fernandes Tomás, Ferreira Borges, Silva Carvalho, todos juristas, e Ferreira Viana, comerciante. Rapidamente acolhe outros elementos no seu seio, principalmente militares, comerciantes, juízes, homens de outras profissões liberais, vindos das mais diversas regiões do país. Nem todos eram maçons, embora se tenham assim tornado na altura do levantamento de 1820. Contudo, a importância da Maçonaria na ação - e na composição - do Sinédrio é relevante, pois ele colabora mesmo com lojas maçónicas existentes (por exemplo, a Segurança Regeneradora e a Regeneração, de Lisboa) ou com elementos seus em todo o país.Animados no objetivo de instaurar o liberalismo em Portugal, reviam-se e inspiravam-se na Constituição de Cádis (Espanha), cujo modelo pretendiam implementar em Portugal como lei fundamental, substituindo os princípios absolutos que regiam a monarquia no nosso país. Pensa-se que Fernandes Tomás terá visto na luta contra a dominação de Beresford (general inglês que assumia a regência de Portugal) a razão para tal designação do movimento.Norteados pelo projeto liberal, vários eram os objetivos a que se votaram os membros do Sinédrio. Acima de tudo, era importante controlar a opinião pública, observando os sentidos de expressão e vigiando as novas que vinham de Espanha, observar para saber, tentando antecipar e controlar os acontecimentos. Tudo isto era previsto estatutariamente. Como todo o organismo controlado ou apoiado pela Maçonaria, viam-se os membros deste grupo do Porto impelidos a jurar e manter segredo face à sociedade sobre tudo o que faziam ou planeavam, ao mesmo tempo que deviam preservar um sentido de lealdade comum, renovado periodicamente em jantares do Sinédrio algures na Foz do Douro, todos os dias 22 de cada mês. O futuro era aí discutido, planificando-se e preparando-se as ações ou estratégias, embora houvesse outras reuniões, de noite preferencialmente. De acordo ainda com os estatutos, e no caso de haver qualquer movimento ou revolta, o Sinédrio conduzi-lo-ia, sempre salvaguardando a fidelidade dos seus membros e ideais à Casa de Bragança.
A entrada gradual de militares no movimento dinamizá-lo-á, tornando-o mais agressivo e operacional, em vez de apenas vigilante. Este grande número de militares que aderia das várias unidades do país, principalmente do Norte, não era conhecedor dos objetivos e ordens principais. Depois do golpe de 1820, ver-se-á neste ocultar de objetivos primordiais uma das causas para as desavenças que originaram a formação de partidos políticos e a cisão no seio da família liberal portuguesa.
Os meios militares eram fulcrais para o seguimento do plano revolucionário do Sinédrio. Tentava-se, assim, controlar as informações no seu interior, visto que as cadeias de comando interno poderiam, por serem afetas ou fiéis em grande parte ao regime e dado que muitos dos seus chefes eram ingleses, deitar por terra qualquer conspiração, pondo em perigo o Sinédrio. É de salientar o facto de o Sinédrio nunca ter atuado sozinho, tendo tido a colaboração de militares, tal como de particulares e de figuras não maçónicas. De qualquer modo, este movimento lutou pelo controlo das províncias militares, o que de certa forma conseguiu. Com a região militar do Norte dominada, estaria mais facilitada a operacionalidade e a proteção armada do golpe, ao mesmo tempo que, em caso de fracasso, se garantia a fuga para a Galiza sem detenções ou fuzilamentos. As unidades militares do Minho, mais tarde, rompem o compromisso com o Sinédrio, corria o ano de 1820, o que conduz a um adiamento sine die do golpe, que estava planeado para junho. Para piorar a situação, os comandos militares ingleses em Portugal terão tomado conhecimento do plano, obrigando à dispersão dos seus líderes. Um deles era Fernandes Tomás.
O Sinédrio afirmava-se, simultaneamente, nacionalista, chegando mesmo a recusar, na pessoa de Fernandes Tomás, qualquer tendência para uma união ibérica, pretendida por alguns membros do grupo, influenciados pelo intercâmbio crescente com liberais espanhóis.
Apesar de falhado o golpe para junho, F. Tomás não desanima e parte em julho de 1820 para Lisboa, tentando captar apoios materiais e humanos ao mesmo tempo que perscrutava as tendências na capital e sondava a situação para um possível levantamento. O contacto com a Maçonaria em Lisboa terá provavelmente sido um dos objetivos desta sua deslocação à capital. É nesta altura que se dá a adesão da conceituada figura intelectual portuguesa que era Fr. Francisco de S. Luís, futuro Cardeal Saraiva, à causa liberal, e não à estrutura do Sinédrio, pois era religioso beneditino e personalidade eclesiástica. Esta figura de proa do Portugal de Oitocentos congregou atrás de si inúmeras adesões ao Sinédrio ou simpatias à causa.
Entretanto, Fernandes Tomás, regressando ao Porto, determina, com os seus confrades, uma data para o levantamento: 24 de agosto. Menos convergente que a data estava o manifesto do movimento, gerando-se dissensões entre Tomás e o brigadeiro Silveira, que demonstram uma certa tensão no movimento entre civis e militares, para além de um setor tradicionalista e mais conservador, pouco disposto a aceitar os novos ideais do Sinédrio. Mais uma vez, alguns dos problemas futuros do liberalismo português radicarão nestas posições antagónicas que se viviam nas vésperas do golpe. Sentindo o plano perdido e votado ao fracasso, Fernandes Tomás reúne o Sinédrio e tenta concertar a sua posição quanto ao manifesto com o general Silveira, o que é conseguido através da ação e de um manifesto conciliador de Ferreira Borges.
Estava-se então a 22 de agosto. No dia seguinte reúne-se de novo o Sinédrio, em casa de F. Borges, preparando todos os comunicados a apresentar à sociedade e à Administração Pública, local e nacional, para o período imediatamente posterior ao golpe, que efetivamente se desencadeia a 24, com sucesso, após nova reunião do Sinédrio. Com o golpe de 24 de agosto, secundado em Lisboa a 15 de setembro, dissolve-se o Sinédrio, após a entrada de alguns dos seus membros (maçons) para o Governo liberal.
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