«É conveniente ver em pormenor o estado a que se encontrava reduzido o comércio quando Sua Majestade começou a tratar desses assuntos.
[…] As manufacturas de panos e sarjas e outros tecidos desta qualidade, as fábricas de papel, as quinquilharias, as fábricas de sedas, as telas, as fábricas de sabões e em geral todas as outras manufacturas estavam e estão ainda quase arruinadas.
Os holandeses impediram tudo e trazem-nos essas manufacturas para extrair de nós, em troca, os géneros necessários para o seu consumo e o seu tráfico. Ao contrário, se essas manufacturas estivessem bem estabelecidas, não só garantiríamos a nossa produção, de maneira que eles seriam obrigados a trazer-nos o dinheiro que retêm no seu país, mas também teríamos produtos para exportar, que provocariam a entrada de dinheiro, o que, numa palavra, é a finalidade do comércio e o único meio de aumentar a grandeza e o poderio deste Estado. […]
Fácil é concluir que quanto mais pudermos reduzir os lucros que os holandeses obtêm à custa dos súbditos do rei e do consumo das mercadorias que nos trazem, tanto mais aumentará o dinheiro em moeda que deve entrar no reino graças aos bens necessários que produzimos e tanto mais aumentará o poder, a grandeza e a abundância do Estado.
Poderemos concluir o mesmo em relação às mercadorias de entreposto, isto é, àquelas que poderíamos ir buscar às Índias Orientais e Ocidentais e transportar para o norte, de onde teríamos pelos nossos próprios meios as mercadorias necessárias à construção das embarcações, as quais constituem a outra parte da grandeza e poder do Estado. Para lá das vantagens trazidas pela entrada de maior quantidade de dinheiro em moeda no reino, é certo que um milhão de pessoas que definham pela ociosidade ganhariam a vida nas manufacturas; que um número igualmente considerável ganhará a vida na navegação e nos portos de mar […].
São estes, segundo o que entendo, os fins que devem votar-se a aplicação do rei, a sua bondade e o amor pelos seus.»
Colbert, Lettres, Instructions, Mémoires,
tomo II, 1ª parte,Publicado por P. Clément, Paris, 1863.
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